Sistema de cotas inicia briga entre Ufes e cursinhos

Terça-feira, 21, 07 at 1:33 am 3 comentários

Uma semana depois da divulgação do modelo de cotas adotado pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o que não falta é discussão. Agora a crítica cai sobre a qualidade do ensino prestado pelos cursinhos particulares.

A Comissão de Inclusão Social do Vestibular da instituição acredita que o interesse dos pré-vestibulares é o lucro e não a educação. Mas os cursinhos rebatem e avaliam que as cotas não vão interferir no modelo de educação atual.

“Nenhum cursinho particular foi criado com a intenção de melhorar o ensino ou educar. O objetivo dele é treinar os alunos para passar no vestibular. É o lucro. É ter o aluno como garoto-propaganda. Mas agora isso mudou. O espaço foi reduzido para quem estuda nesses locais”, defende o vice-presidente da Comissão de Inclusão Social da Ufes, Antônio Carlos Moares.

Ele acredita que as cotas vão ajudar a melhorar o ensino público, seja pelo aumento da procura na rede estadual ou pela cobrança pela qualidade no ensino, feita pelos pais.

Crítica

Mas esses pontos são criticados pelos coordenadores de pré-vestibulares particulares na Grande Vitória. O professor Antônio Américo, responsável pelas turmas de pré-vestibular da Contec, acredita que Moraes está equivocado.

“Não serão as cotas que vão ajudar a melhorar a rede pública de ensino, mas o investimento vindo do Estado e a cobrança constante pela qualidade. Mostrar um aluno primeiro colocado significa ter orgulho desse resultado”, defende Américo.

José Antônio Pignaton, diretor do Centro Educacional Leonardo Da Vinci, também questiona o posicionamento do vice-presidente da comissão. “Se nós não nos preocupamos com a educação de nossos alunos, por que eles alcançam os primeiros lugares no vestibular? Não há treinamento que explique um resultado desses. Vejo isso como inveja”, aponta o diretor.

Como vão funcionar as cotas na Ufes

Prazo. O sistema de cotas passa a funcionar já para o próximo vestibular

Critérios. Inicialmente, cada curso terá 40% de suas vagas reservadas para alunos egressos de escolas públicas e cuja renda familiar seja inferior a 7 salários mínimos (R$ 2.660)

O aluno precisa ter estudado pelo menos 7 anos, incluindo todo o ensino médio, em escolas públicas

Próximos anos. No vestibular de 2009 serão 45% de cotas para escolas públicas. Em 2010, serão 50%, mantendo esse percentual nos vestibulares seguintes

Concorrência

Todos os inscritos vão concorrer a 60% das vagas. Uma vez que elas tenham sido ocupadas pela ordem de classificação, os ex-alunos de escolas públicas vão ter uma nova chance e ser reclassificados para ocupar os 40% de vagas reservadas

Caso não haja nenhum aluno com perfil e pontuação suficiente para ocupar as vagas das cotas, a exigência cairá de sete anos de rede pública para quatro

Se mesmo assim não houver candidatos com a pontuação mínima, as vagas serão remanejadas para os demais concorrentes, sempre seguindo a ordem de classificação por nota

Novo sistema deve mudar concorrência no VestUfes

Com a adoção do modelo de cotas sociais da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) acredita-se que a concorrência de aluno por vaga de cada curso passe por grande mudança nos próximos três anos, pelo menos até que o modelo seja totalmente implantado e chegue a 50% de reserva.

O vice-presidente da Comissão de Inclusão Social do Vestibular da Ufes, Antônio Carlos Moraes, acredita que, hoje, cursos que tenham um grande número de ex-alunos da rede pública de ensino passe a concentrar um número maior de estudantes da rede particular. O inverso pode ocorrer com carreiras mais concorridas.

“Atualmente não é difícil encontrar um aluno de rede pública que mude de opção de curso por considerar difícil o acesso. Ele acaba optando por cursos menos concorridos”, explica Moraes.

Opções

Com as cotas, segundo o vice-presidente, esse interesse mudaria. “Os alunos da rede pública sentiriam mais confiança para tentar medicina, direito ou as engenharias, por exemplo”, afirma.

Moraes acredita que haverá uma mudança na ocupação de espaços dentro da universidade. “O que vai mudar não será apenas o percentual de concorrência aluno/vaga, mas, também, a cara do curso”, defende Antônio Carlos.

Rendimento é semelhante nas aulas

As cotas podem mudar a qualidade de ensino na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)? Grande parte dos coordenadores de cursos e chefes de departamento entrevistados pela reportagem disseram que não.

Para o chefe de Departamento de Administração, o professor Alvim Borges, os ex-alunos de escolas públicas que estudam ou estudaram na instituição não apresentam dificuldades no aprendizado dentro da universidade. “Acredito que com as cotas isso não seja diferente. Eles conseguem acompanhar o modelo como qualquer outro aluno”, defende.

O coordenador do curso de Psicologia, Robinson Rômulo Lima, e a vice-coordenadora de Enfermagem, Elizabete Oliveira, concordam com Borges. “Seja de escola pública ou particular, o diferencial do aluno está no envolvimento dele com o curso e seus objetivos durante o aprendizado”, pontua Lima.

“Não há nem como levantar essa questão. Recebemos muitos alunos da rede pública e nem sabemos quais são por não haver uma diferença no aprendizado deles, nem dificuldades”, explica Elizabete.

Mas para o professor e chefe do Departamento de Física, Clisthenis Constantinidis, o nível do ensino proposto na instituição deve cair. “Já ouvi de alunos que vieram da rede pública que nunca tiveram aula de Física porque não tinha professor na escola”, conta ele.

Apesar disso, ele ressalta que os melhores alunos que se formaram em Física, recentemente, vieram do ensino público.

Abandono de curso é menor entre cotistas

Um levantamento feito pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) aponta que os alunos cotistas da instituição não rendem menos do que os não-cotistas. Dentro da pesquisa, ficou identificado que 17,5% dos alunos que entraram na universidade pelas cotas largaram os estudos antes de concluí-los, enquanto entre os não-cotistas esse percentual atinge quase 19%. No caso das médias, os cotistas alcançaram notas superiores dos não-cotistas: dos 13 cursos disponibilizados na Uenf, os cotistas tiveram média maior em oito, contra cinco dos não-cotistas.

Fonte: Jornal A Gazeta

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3 comentários Add your own

  • 1. Marcel  |  Segunda-feira, 8, 08 às 3:04 pm

    Acho digno.
    A lógica dos cursinhos atrás do lucro acima de tudo faz todo sentido. É só ver como eles usam o nome dos alunos aprovados em seus comerciais… como se a instituição fosse a única responsável pelo sucesso do vestibulando.

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  • 2. fran  |  Quinta-feira, 3, 10 às 3:01 am

    Para as pessoas que nasceram em uma boa estrutura familiar é muito fácil criticar o sistema de cotas, mas vai ver a realidade dos cotistas, a faculdade gratuita, é a única oportunidade de mudar sua vida e a de seus familiares. Quem tem dinheiro p/ pagar 1000 de escola, pode pagar esse valor em uma instituição privada no ensino superior. Vamos olhar p/ passado e modificar o futuro!!!

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  • 3. ronny  |  Quarta-feira, 11, 11 às 6:03 am

    Querem multilar os pobres, Sim ao sistema de cotar!

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